sexta-feira, 24 de outubro de 2014

(con)Sorte

Escapadinha a dois: eu e o Rogério na Serra da Estrela, num dos meus hotéis favoritos em Portugal, para um fim-de-semana de quatro dias. Tempo perfeito, ambiente perfeito, sexo, se não perfeito, bem próximo disso e com muita vontade de praticar afincadamente com vista à perfeição.

Mas a serra é demasiado bela para ficarmos pelo vale dos lençóis. (Haveria muito tempo para isso de volta em Lisboa.) Assim que, para variar das fodas matinais e do que a noite nos traria, decidimos passar uma tarde em passeio pela região, aproveitando para fazer um idílico piquenique (prontamente providenciado pelo serviço de quartos do hotel...) num pequeno reduto de bosque que à data ainda não tinha ardido.

Após o aprazível repasto, e em jeito de sobremesa, a previsível foda pós-prandial: à brisa morna que nos lambia os corpos nus, entregámo-nos ao clamor do sexo, o esplendor na relva. (Tínhamos, como diriam os franceses, la fièvre dans le sang...)

Assim devidamente reconfortados de corpo e espírito, seguimos para o circuito habitual: Vale Glaciar, Manteigas, Vale do Rossim, Sabugueiro, Loriga. Não sei como, quando demos por nós estávamos no centro da cidade de Seia, afastados de paragens mais serranas. Foi certamente a Providência, pois logo uma loja de roupa inesperadamente promissora atraiu o meu olhar. O Rogério estacionou ali perto e entrámos.

A proprietária estava sozinha, nem uma cliente percorria aqueles cabides de perdição. Era, de facto, um achado num recanto insuspeito e, com preços convidativos, oportunidade a não descurar. Devo ter passado mais de uma hora lá dentro, provando vestidos em sucessão, pondo a loja em estado de sítio.

A proprietária estava fascinada (no fim acabámos comprando cinco ou seis peças), correndo de um lado para o outro, ajudando aqui, assistindo ali, mantendo a linha de prova a funcionar como uma máquina oleada. Mas o seu maior fascínio ia, claramente, para o comportamento do Rogério, que participava entusiasticamente em todo o processo, “folheando” como um louco os vestidos expostos, fazendo sugestões (acertadas sugestões) umas atrás das outras:

— Ora experimenta lá este, que te realça a linha dos ombros.
— Este, este, que a cor fica-te de morrer!
— Estas calças é que iam bem com aquela túnica, querida...
— Não haverá aqui nada mais diáfano?

Tudo isto (des)temperado num jogo de tusa mútua, com as suas fulgurantes incursões à minha cabine de prova, alvorotamentos a que as cortinas mal emprestavam um significativo disfarce.

A certa altura, a senhora não conteve a sua admiração e segredou-me:

— Que sorte a sua! Habitualmente os maridos não são assim: olham impacientemente para o relógio, morrem ali para um canto...

— Pois... — respondi eu, assertiva. — Mas ele não é meu marido: é meu amante.

A lojista enrolou as mãos numa tarefa vã e desviou o olhar sem rumo, visivelmente incapaz de decidir-se quanto à melhor maneira de reagir.

— E não é uma questão de sorte — rematei —, mas de saber escolhê-los.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

SMS: Short Message Sex (4)
Navegar é preciso

Mensagem de Méssaline:

Segunda-feira, 06:27

Bom dia. Não durmo... Penso em nós, ontem. Ao meu corpo apetece-lhe de novo o teu. Beijos longos e profundos.
Mensagem d'Ele:

Segunda-feira, 07:34

Anseio por te fazer vir as vezes que tu mereces, com a intensidade que só tu mereces!
Amo-te. <3
Mensagem de Méssaline:

Segunda-feira, 08:12

Tenho um ardor muito forte dentro do meu peito que me dará ânimo para suportar o que é preciso até chegar a hora de navegar: nos nossos corpos, nas nossas palavras, nas nossas emoções.
Mensagem d'Ele:

Segunda-feira, 08:49

Estou com tão pouca vontade de enfrentar este dia.
Só me alenta (sempre) a perspectiva do doce gosto do teu corpo e (esta manhã) a lembrança da tua cona, ontem, molhada antes que eu tivesse usado a piça! Só de escrevê-lo fico com tesão.
A ver como o dia corre, e se nos podemos encontrar um pouco logo à noite. Beijos <3
Mensagem d'Ele:

Segunda-feira, 15:56

Anseio pelo teu corpo esta noite e sempre!  :*
Mensagem d'Ele:

Segunda-feira, 21:13

Vou a caminho da minha casa. Quando o meu amor me quiser...  ;-)  <3
foda e mais foda, e mais foda
Mensagem de Méssaline:

Terça-feira, 08:50

Gostei muito do nosso encontro de ontem. Sinto, após tanta explosão, o meu corpo e o meu espírito mergulhados numa paz imensa.
Mensagem d'Ele:

Terça-feira, 09:20

Também gostei muito da nossa noite. Não imaginas o quanto me dá prazer fazer-te vir (ver-te vir)!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

«Sexuellemente, c’est-à-dire, avec mon âme.»

Écrits pornographiques

Boris, mon maître!


Os teus Écrits pornographiques incitam-me a escrever-te. Não, não vou cracher sur ta tombe, embora esse meu eventual sacrilégio te pudesse agradar, creio, porque tu não és um morto com a pele igual à dos outros.

Tenho é coisas a dizer ao teu ouvido musical, coisas que só um jorrador de espumas dos dias é capaz de entender.

Primeiro: o que mais me excita em ti é o teu humor. Haverá escritos eróticos sem humor, haverá escritos pura e duramente pornográficos despidos d’esprit, mas não há visitante da minha mina escura, colaborador da exultação dos meus pontos G (sim, tenho mais do que um ponto, tenho um alfabeto inteiro...) que não tenha, preliminarmente, derramado pelo meu cérebro sementes de graça, de comicidade, que não tenha estimulado os meus neurónios com correntes jocosas, iconoclastas, que não tenha jogado brincos burlescos, irónicos, cómicos, no meu pavilhão auricular.

Segundo: permite-me que actualize a tua lista de inimigos do erotismo, acrescentando-lhe jornais de grandes tiragens, revistas cor-de-rosa ou cor-de-burro-quieto, espectadores de concursos abjectos, de telenovelas e reality-shows excrementícios, berradores dos campos de futebol, livros de auto-ajuda, sombras-de-grey e todo o escrito prêt-à-manger, isto é, mastigado por outrem, debitadores de paleio de engate, seguidistas da ortodoxia ideológica, moral, estética, conjugal, kama-sútrica, apóstolos da euforia perpétua, pastores das massas, funcionários das finanças, hirtos por engolirem tanto papel seco, manipuladores infatigáveis de iPhones, iPads e outras tabletes do ensimesmamento contemporâneo (se ao menos aplicassem o virtuosismo digital to jazz comme il faut...), arrastadores de tédio pelos centros comerciais, comedores de pipocas no cinema, praticantes da coscuvilhice de mesa de café, bocejadores da vida própria, governantes de valores cambaleantes e outros animais invertebrados, actores de revista à portuguesa e de stand-ups de chocalho, castos arrogantes, apóstatas da libertinagem, ociosos que nem se masturbam, desertores obstinados da melancolia contemplativa.

Terceiro: a tua conferência só se dirige a homens (e heterossexuais). Não concebeste auditório mais rico na variedade? Perdoo-te, porque me parece ser traço geracional. Pertences àquelas gerações de homens (ainda vivas, bem sei) que não vêem nas mulheres companheiras de feitos e de ditos, que dizem «as mulheres isto, as mulheres aquilo», como se as mulheres fossem uma classe homogénea, um rebanho obediente, sem ronhosas nem cabras. Para eles e para ti, éramos — e ainda somos — irremediavelmente o Outro, objecto do desejo, não sujeito dele. Não tens a culpa toda, mas lamento não te poder louvar uma posição que esperava do teu perfil revolucionário, a de fala e falo espetados na alvorada feminista. Tenho, por isso, de adendar o teu parágrafo sobre o que se pede à literatura erótica. Aqui vai:

«Penso que ela [a literatura erótica] deve ser antes de tudo uma preparação, uma incitação e uma iniciação para tod[a]s aquel[a]s que circunstâncias desfavoráveis, um meio social inadequado ou necessidades diversas privaram de [um primo de 18 primaveras ou de um professor bem-parecido; para todas aquelas cujos pais não tinham uma família amiga com um filho em idade de explosão hormonal, as que não participaram em festivais de Verão, desfolhadas, vindimas, as que não tiveram coragem para escapar à vigilância paternal e ir a bailes de domingo, matinés em discotecas e cinemas, as que não fizeram visitas de estudo, nem a universidade fora da terra, nem Erasmus, as pobres feias que não provaram o refinado entesoanço da corte prolongada até... aaaai... à vertigem, as que nunca leram um bom livro (todo o bom livro é erótico, quer na oferta sensual da minúcia descritiva, quer na brasa dos diálogos e actos amorosos), aquelas a quem não foi distribuída a sorte de um amante de imaginação poética e disposição balética no leito, as de corpo fechado pelo enxame de castradores].» «Para tod[a]s aquel[a]s enfim que, envelhecid[a]s antes da idade por uma instrução geral e obrigatória completamente absorvente, não tiveram tempo para se instruírem em particular nos deveres [da mulher] em relação ao seu corpo... e ao corpo dos outros».

Um destes dias, acompanho a tua marcha do pepino com uma do meu moranguinho, do meu pesseguinho. Não gostas da fruta com molho em «-inho»? Eu também não! Então, há-de ser da minha romã, do meu figo, do meu grelo.


Un bisou de mon âme, sexuelle comme la tienne.

Méssaline Salope

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Correio messalínico (3):
Quem é Méssaline Salope?

Em reacção ao post «Happy Méssaline», o leitor Come e Cala disse:

Durante meses questionei-me: quem será Méssaline Salope?

Será mesmo uma mulher boa e fodilhona como afirma? Com isto da internet nunca é de confiar. Não será ela de facto uma mulher velha, feia e encruada? Ou só velha, só feia, só encruada? Não poderá ser um homem? Ou a fabricação de algum estudo sociológico onde somos cobaias?

Estas perguntas perseguiram-me até que comecei a juntar os indícios:

Indício 1:

  1. Vítor Gaspar demitiu-se a 01/07/2013
  2. Méssaline iniciou o seu blogue a 05/08/2013, ou seja, 35 dias depois
  3. 35 é a idade de Méssaline Salope (fonte: Happy Woman)

Indício 2:

  1. Méssaline Salope e Vítor Gaspar nunca foram vistos ao mesmo tempo no mesmo sítio
  2. De facto, Méssaline Salope e Vítor Gaspar não foram sequer vistos ao mesmo tempo em sítios diferentes!
    (Clark Kent anyone?)

Indício 3:

  1. Méssaline Salope não percebe nada de Economia (vá lá, é um palpite meu...)
  2. Vítor Gaspar também não percebe nada de Economia (como se viu em 741 dias no cargo de ministro)

Estes três indícios permitem-nos chegar a uma surpreendente conclusão:

MÉSSALINE SALOPE É VÍTOR GASPAR!


Méssaline responde:

Caro Come e Cala, a sua teoria é interessante, mas sofre de duas debilidades:

  1. Basear qualquer conclusão no artigo da Happy Woman é tão arriscado como fiarmo-nos nas previsões económicas de Vítor Gaspar... Conforme eu disse antes, referindo-me ao artigo da Happy Woman: acreditar com moderação.
  2. Se eu fosse de facto Vítor Gaspar, então ainda teria fodido mais gente do que afirmo aqui na Boîte.

Bisou!

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Está a lasciva e doce passarinha

Está a lasciva e doce passarinha
C’o dedinho entre pernas laborando;
O fluido favorável corre brando,
Despindo se livra da vã cuequinha.

O pontual caçador, que no caminho
Se vem, propício e esperto, aplicando,
Com pronta vista a seta endireitando,
Se dá ao Esfreguíceo lago, seu ninho.

Desta arte a bichinha, que vaga andava,
(Posto que já de longe destinada)
Onde mais queria, foi bem fornida.

Porque o frecheiro teso se esforçava,
Para que ela ficasse extasiada,
E a mais monteadas ficasse atida.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Al-moço

No léxico messalínico, Omar Borkan Al Gala, o modelo expulso da Arábia Saudita por ser demasiado bonito, é o perfeito exemplo do chamado almoço: jovem, árabe — e comia-o já.

Omar Borkan Al Gala