sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Amante de homens mil

Amante de homens mil, entre os quais destaco Camões e Bocage, confesso o meu favoritismo por Fernando Pessoa. Adorava metê-lo nos meus lençóis e introduzi-lo nos paraísos da carne. Excita-me a sua aparente virgindade e constante punhetice. Excita-me ele ser muitos. Um homem com tantas personalidades não me cansaria. Um dia com o arrebatado Álvaro de Campos, a foder pelos becos da cidade; outro, a aquecer o frio e contido Ricardo Reis; depois, a esfodaçar pela natureza, com Alberto Caeiro. Se me apetecesse uma dança aristocrática, pedir-lhe-ia a máscara do Barão de Teive; se preferisse mordiscar petiscos estrangeiros, convidaria Alexander Search. E depois os outros todos...

Não desdenho a verga pujante do nobelizado Llosa ou do tropicaliente Jorge Mamado, nem a língua do cínico António Lambe Antúrios, nem ser levada à sétima esfera pelos coitos vagabundos com Mário de Car(v)alho. E porque não desprezo os neófitos, desde que talentosos, sonho com um dueto com o fulgurante e polivalente Afonso Cruz, que faria da minha cona uma harmónica.

Depois os imediatamente acessíveis: louros, morenos, altos, baixos, peludos como gorilas, de pele lisa como golfinhos, jovens de gestos ansiosos, maduros buscadores de pinanço a torto e a direito, nacionais e estrangeiros, com preferências para os dedicados italianos e os aplicados eslavos, passantes na rua que me trespassam com a selva de um olhar, músicos de pose lasciva, professores que pregam os olhos no meu corpo, médicos que se surpreendem quando lhes entro no consultório, empregados de mesa que retêm suspiros enquanto me servem o linguado ou a salpicão e eu lhes escrutino as reacções da zona escrotal. E que dizer dos disponíveis desempregados, ávidos de uma satisfação qualquer, dos colegas que se calam quando passo, dos chefes que se levantam quando chego, dos toureiros que exibem as suas cinturas varonis, dos businessmen-vedetas entesoados pelo ganho de mais um milhão, dos frequentadores de ginásios que transpiram testosterona?

Ah, não ser eu toda a amante em toda a parte, senti-los todos de todas as maneiras...

2 comentários :

  1. Mesmo sendo uma homenagem post-mortem, gostei desta visão! :)

    Beijo d'(Ela)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nem todos morreram...
      (Além de que Méssaline existe para lá do tempo e do espaço...)

      Bisous.

      Eliminar