Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao crepúsculo como num sonho, na estrada pouco deserta,
Ele guia. Guia quase devagar
Porque não paramos de nos atiçar um ao outro:
Mete-me a mão pelas pernas acima, desvia a cueca e mete os dedos
Que saem escorrentes.
Eu palpo-lhe o pau duro, aperto-o até o sentir palpitar levemente.
Parece-me que vamos parar para uma rapidinha, mas a estrada segue
Sem saídas propícias para aliviar cios.
Forço-me para que me pareça que sigo por outra estrada,
Com menos carros, com outro carro,
Mais adaptado a entrar pela mata fora,
Antes que passe a tusa.
Assim, mais parece que nem me vim em Lisboa
Nem me vou vir em Sintra
Nem pelo caminho.
Vamos passar a noite a Sintra por não podermos passá-la em Lisboa,
Que lá está o outro de quem não me consigo livrar.
Mas, se assim continuarmos quando chegar a Sintra,
Terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Pelo menos com o outro, a foda era certa e boa.
Sempre esta indecisão, sempre, sempre, sempre.
Maleável aos meus movimentos de mãos,
Estou mortinha que galgue sobre mim
E podia ser mesmo na berma da estrada.
Sorrio do cacete bem teso, ao pousar as mãos nele,
E ao abocanhá-lo em andamento.
Por fim, à beira da estrada, à esquerda, um casebre —
Uma boa oportunidade para uma memorável pranchada contra a parede,
Que tenho o gosto romântico das ruínas —
E a direita também promete com o campo aberto, com a lua ao longe.
Por mim, é aqui já. Paramos.
O automóvel é agora uma coisa onde estamos fechados e aos gritos.
Que só posso foder à vontade se ele estiver fechado,
Para ninguém se alarmar.
Grito porque me sabe bem e grito por mais.
À esquerda, lá para trás, o casebre modesto, mais que modesto.
A vida ali deve ser uma tal seca, ainda bem que não é a minha.
Se alguém me viu da janela do casebre, sonhará: Aquela é que é feliz.
Talvez o rapaz que olhou, ouvindo o motor, pela janela da cozinha
No pavimento térreo.
Sou qualquer coisa da puta de todo o coração de rapaz imberbe.
Ele me olhará de esguelha, pelos vidros, até à curva em que me perdi:
Deixarei sonhos e punhetas atrás de mim.
Na estrada de Sintra ao luar, ante os campos e a noite,
No Chevrolet onde mamo consoladamente,
Perco-me neste fodão, sumo-me no êxtase que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Aceleramos o ritmo.
E o mangalho esparrama-se-me no monte-de-vénus.
À porta do casebre,
O rapaz a esgalhar uma.
E a minha cona ainda insatisfeita,
A minha cona desejosa daquela verga manceba.
Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar.
Na estrada de Sintra, que cansaço as cambalhotas no carro dadas
E já a vontade de mais.
Na estrada de Sintra, já no pós-orgasmo.
Na estrada de Sintra, já mais perto de outro,
Do Álvaro, do Fernando, tanto faz.