sábado, 8 de fevereiro de 2014

Galdéria na galeria
[parte 2]

Entrámos, vimos o primeiro piso, onde se encontrava a vendedora que cumprimentámos contendo as nossas vozes para que não deixassem extravasar qualquer sinal do alvoroço íntimo.

Passámos o primeiro e o segundo pisos num passo acelerado, num roço constante. Num nu, disse-te:

— Que bem pintaste aqui as minhas nádegas, sinto o teu pincel túmido e húmido a afagar-me o rego.

Noutro:

— Olha aqui os pingos da tua esporra a escorrerem-me pelas mamas.

Deslizando a minha mão por uma coluna baixa:

— Como o teu fuste está duro... Imagina-me sentada no capitel...

— Ah, puta, deixas-me louco.

No terceiro piso — ó presente dos deuses da foda urgente! — não havia ninguém!

Vimos uma porta entreaberta. Entrámos nesta galeria dentro da galeria, fechámo-la com rapidez de náufragos perante uma jangada e revolvemo-nos num tango de passos apertados e tenazes: bocas esmagadas uma contra a outra, abraços estranguladores das cinturas, dos dorsos. Baixaste repentinamente a cabeça para enfiares a tua língua na minha cave alagada. Desceste um pouco as calças, encostaste-me contra a parede, de frente, e empurraste o teu picasso até ao fundo. Mil gritos subiam-nos dos sexos às bocas que tapávamos mordendo as mãos um do outro. Parecia que sufocávamos e avisei-te que me ia vir. Paraste, porque gostavas de ver os meus olhos subitamente parados, vidrados, as faces em fogo, o coração a sair pela boca aberta. Nesse meio minuto, a minha mente foi tela de botões de rosa e eu queria que a minha boca se abrisse mais para os poder felar até desabrocharem, foi tela atravessada por uma haste só, caule suculento para sorver ou torre de De Chirico para trepar. Ainda nesse meio minuto, eu fui uma flor de Georgia O’Keeffe e tu o espe(c)tador que penetra o abismo da orquídea gigante até ser engolido, devorado, regurgitado para se relançar de novo no vórtice carnal.

Disseste-me:

— Vou-me vir. Como queres?

— Nas costas.

De um gesto só arrancaste-me a blusa e eu senti-me tela de um Pollock de tinta branca e quente.

Descemos os três pisos devagar para amansarmos a respiração. Precisámos de nos sentar um pouco num degrau para acalmar as pernas trementes.

Adiámos o motel para uma emergência sem outro recurso.

5 comentários :

  1. Grande pintura... adorei o texto :)
    Beijinhos

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  2. Na sua febre, Méssaline não se apercebeu de que, poucos metros atrás dela, um outro passante fugia ao dia chuvoso e entrava na mesma galeria, subia, devagar, as escadas, apreciando, de baixo, a forma das pernas e das nádegas e o movimento dos quadris, se fazia discreto, assistia, de longe, à exposição de Méssaline diante de cada quadro exposto, assestava a orelha e procurava captar cada palavra, prosseguia a ascensão, franzia o sobrolho e tentava ver o que apenas se adivinhava através da porta entreaberta, abotoava a gabardine e metia uma mão pelo bolso, até à braguilha das calças, que descia para acariciar o pau duro e ávido, arfava suavemente e assistia ao mais belo quadro vivo de toda a galeria e se apagava, depois, num canto, deixando Méssaline descer, com o seu companheiro, enquanto ele, lá no terceiro piso, recuperava alento.
    Méssaline nunca soube o orgasmo que me deu.

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    1. Ena, temos voyeur! :D

      Situação que não incomoda nem atesoa Méssaline: os passantes que tenham (lá com eles) o prazer que possam e como possam, desde que não interfiram com o dela. Está demasiado ocupada a vir-se para se deixar afectar (ou sequer reparar) nessas minudências...

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    2. Cher Paulo F,

      Releio a minha resposta anterior e vejo que fui talvez demasiado cínica, descortês. Não sei o se passou. (Às vezes creio que tenho dupla personalidade — virá daí a necessidade de foder a dobrar?)

      Peço que não leve a mal. Adoro os seus contributos.

      Bisous!

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