Nos primeiros anos após acabar o curso trabalhei no gabinete técnico de uma entidade pública. Acho que entretanto a coisa mudou, mas na altura a avaliação anual do desempenho funcionava pelo método “chapa cinco”: era toda a gente corrida a “Suficiente”, dos imprestáveis aos notáveis. E, até à minha entrada na equipa, vivia tudo na santapazdedeus.
Então — sacrilégio! —, submeti um requerimento para ter direito a um processo digno do epíteto de «avaliação». Estava tudo previsto nos esquecidos regulamentos da Função Pública (relatório de autoavaliação, formação do júri, audiência, etc.), mas o pedido caiu como uma bomba no serviço e até apanhou desprevenidas as chefias, que não faziam a mínima ideia de como a “coisa” de fazia.
Dias depois, enquanto ainda esperava pela audiência de avaliação, cruzei-me com colegas à volta da costumeira máquina de café do átrio. A certa altura, alguém, com um mal-disfarçado tom de recriminação, comentou que não percebia por que tinha eu feito tal requerimento: com “Bom” ou “Suficiente”, no fim do mês ganhávamos todos o mesmo...
«Sim, é verdade», reconheci. «E é pena e uma injustiça que assim seja. Mas, mesmo sendo-o, exijo ao menos o reconhecimento formal do meu empenho e desempenho. Porque, no que a mim diz respeito, ponho empenho em tudo o que faço e procuro ser sempre o melhor possível.» E acrescentei, num tom que garantisse que todo o átrio ouvia: «Quando faço um projecto, quando escrevo, quando cozinho para alguém, quando FODO!, não é para ser apenas “Suficiente” ou aceitável — é para ser Bom, Muito Bom ou Excelente.»
Concordo e subscrevo, não expressaria melhor, parabens.
ResponderEliminarEu nesse campo ainda sou sim do tempo em que dabvam sim muito bom a todos ou quase, indiscriminadamente, o que é uma injustiça bem semelhante a essa.
Se não me engano (foi há alguns anos), na altura só mesmo o Suficiente (e o Insuficiente, que nunca era atribuído...) estavam "naturalmente" disponíveis. Para notas de Bom ou superior, era preciso o funcionário solicitar a tal avaliação extraordinária, com júri (incluindo membros externos) e coisas assim. Um convite a que nada se fizesse — convite que toda a gente aceitava com naturalidade. (Menos eu.)
EliminarTOP!!!!
ResponderEliminarDito!
ResponderEliminar:D
Deve usar-se exclusivamente a posição do missionário, às escuras e com camisa-de-dormir vestida, e a Dama não pode dar-se a requebros e outras manifestações de lascívia e mau-gosto.
ResponderEliminarFica o Suficiente garantido (fica mesmo?!...) e não se fala mais nisso!
Paulo F,
EliminarHaverá homens para quem o quadro que descreve é Bom, Muito Bom e até Excelente. Diz Méssaline, que nunca experimentou tal fruto, apesar de já ter provado alguns amargos. O mundo tem muita falta de imaginação e bastante incompetência.