sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Fingir orgasmos

Há vários tópicos recorrentes nos escritos sobre sexualidade feminina com os quais nunca senti qualquer identificação. Desta vez, centro-me apenas neste: fingir orgasmos.

Já me chegaram a dizer — com a convicção de quem pronuncia uma verdade absoluta, que não me atrevi a contrariar para não perder o espectáculo próprio de algumas generalizações — que TODAS as mulheres fingem, que não há nenhuma que o não tenha feito pelo menos uma vez. E como tento evitar guerras com fêmeas, por princípio, mas também por já as ter na minha conta em medida muito superior ao que queria, enrolo os meus pensamentos para dentro. Hoje vou desenrolar alguns:

  1. Então, se por incompetência do cavaleiro ou quebranto da montada, a viagem não chega a bom termo, vou fingir que sim, que aaaah, aaah, aah, foi muito bom? Para quê? Para o macho ficar com o ego inchado e poder continuar cavalgando com a irresponsabilidade dos iludidos? Se ao menos tivesse a poesia de um Quijote! Não! Não faço favores sexuais a ninguém!

  2. Se o desastre da foda mal-dada, mal-acabada, aconteceu, por ejaculação precoce ou outra miséria com o mesmo resultado, mostro o meu desagrado. Fica o cavaleiro triste, com o ego murcho? Azar, há que ser consequente, há que foder com responsabilidade. Mas fingir, JAMAIS!

O que eu tive de fazer várias vezes na vida no que toca a orgasmos não foi fingi-los, mas disfarçá-los. Eis como e por quê:

Precoce na revelação do prazer, dediquei-me a explorá-lo, a desenvolvê-lo. Não havia em casa esquina de mesa ou cadeira cujas potencialidades orgásmicas eu não tivesse experimentado e apurado, não havia aula aborrecida que não aproveitasse para divertir o meu pipi. Mas cultivar este jardim secreto exigia muitos cuidados, muita camuflagem, muita arte do disfarce, não só enquanto o regava, mas também na hora de lhe colher as flores. O que vale é que, boa aluna, os professores julgavam que os olhos brilhantes e fixos, a face ruborizada, a posição imóvel eram sinais de entusiasmo pelo que diziam, que lhes bebia as palavras...

No Secundário e na Universidade, partilhei quartos com outras raparigas. Elas a adormecerem e eu a procurar posição propícia ao manejo silencioso; elas a irem à casa-de-banho e eu a usar as mãos com urgência; elas a chegarem e eu a engolir os gemidos que me apetecia lançar às golfadas, a tapar a cara para esconder os vestígios do êxtase.

Ainda hoje, no trabalho, nos restaurantes, nas bibliotecas — oh, a tusa das bibliotecas... —, quantas idas estratégicas à casa-de-banho donde regresso com ar de quem viu Nossa Senhora e ainda não acredita no que lhe aconteceu! Por vezes, sentindo-me ainda iluminada pela epifania, alguém se atreve a fazer o papel de Craft perante o rosto flamejante de Carlos da Maia ao receber a primeira missiva de Maria Eduarda: «O que tens?», «O que aconteceu?» Respondo consoante a disposição de momento: retoco o fond de teint ou digo com o tom mais natural do mundo: «Tive um orgasmo». Depois, quase tenho outro ao gozar a incredulidade de quem ouve esta pura verdade.

Fingir? Finja quem lê!

3 comentários :

  1. Fingir nunca...
    Também abafei muitos orgasmos...

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  2. e assim ... nós (h) vos vamos conhecendo (m) ......
    obg

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  3. l'uomo esperto se ne accorge e la donna finisce per fare una misera figura..

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