quinta-feira, 29 de agosto de 2013

De tarde

Estava eu preparada para uma daquelas sessões que incluem a merenda completa e chegas tu e propões um piquenique no campo. Ora bem, lá tive de mudar de farpela, porque stilettos enterram-se, meias de vidro rasgam-se nos arbustos. Fui sem cuecas, aproveitando o conselho médico segundo o qual as pássaras se dão melhor ao ar livre. Troquei o bustier de vinil por um de rendas country. A princípio gostei da ideia (o calor, a brisa de fim de tarde, a possibilidade de umas cabriolices na água fresca de algum riacho, o cheiro doce da erva cortada recentemente, o olhar lúbrico dos pastores…). Mas quando cheguei deparei-me com um arraial de burguesas, todas não-me-toques, com os seus ares entre o boho e o hippy chic, meninas da Linha de Cascais ou da Foz, contra quem não tenho nada a não ser o modo como fodem a gramática, arredondando muito as boquinhas e às vezes até desviando as comissuras labiais, para puxar bem ao ar de tia que almejam ser. Talvez chegasse a haver alguma história interessante, alguma grandeza de gestos dignos duma aguarela, se lá houvesse pintor. Mas, neste capítulo do registo icónico, só vi máquinas digitais apontadas a borboletas e abelhas em pleno chupanço do doce néctar dos órgãos sexuais das flores.

Aquele não era o meu pouso e com um piscar de olhos pisgámo-nos com a desculpa de que íamos ver os arredores.

Chegámos a um granzoal azul de grão-de-bico e foi quando eu, descendo do automóvel, fui colher um ramalhete rubro de papoulas. Ao veres-me assim, de traseiro para o ar, não estiveste com imposturas tolas. Saíste do carro, abriste a braguilha, levantaste-me as saias e pumba, pau para dentro que já estava no ponto que me consola. Foi uma bela malhada, não no cereal ou na leguminosa, mas onde deve ser, entre pernas. Quanto às papoulas, lá ficaram a juncar o chão e a denunciar que não tínhamos respeitado o poema.

Pouco depois, em cima duns penhascos, nós acampámos, inda o Sol se via, e houve talhadas de melão e de melancia que comemos com dentadas bárbaras, deixando correr o sumo pela cara e pescoço que lambíamos esticando as línguas. Havia também damascos que eu te enfiava na boca para morder e alternar com pão-de-ló molhado em malvasia que já escorria pelos meus peitos chegadinhos como duas rolas. E como bom vinho não se desperdiça, lambíamo-lo, trocávamo-lo de boca e com o resto eu molhava-te a piça.

«Fazem falta as papoulas aqui no meio», disseste tu, com lubricosa lassidão. E eu, muito dada ao improviso copular e sem querer faltar mais às disposições da poesia, mamei-te a papoula até ficar purpúrea, metia-a no meio das rendas, esfregámos-lhe o talo e daí a pouco ela desabrochou em alva linfa, compondo um ramalhete colorido, supremo encanto da merenda, muito mais interessante que o outro, apenas rubro, ó senhor Cesário!

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