sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao crepúsculo como num sonho, na estrada pouco deserta,
Ele guia. Guia quase devagar
Porque não paramos de nos atiçar um ao outro:
Mete-me a mão pelas pernas acima, desvia a cueca e mete os dedos
Que saem escorrentes.
Eu palpo-lhe o pau duro, aperto-o até o sentir palpitar levemente.
Parece-me que vamos parar para uma rapidinha, mas a estrada segue
Sem saídas propícias para aliviar cios.
Forço-me para que me pareça que sigo por outra estrada,
Com menos carros, com outro carro,
Mais adaptado a entrar pela mata fora,
Antes que passe a tusa.
Assim, mais parece que nem me vim em Lisboa
Nem me vou vir em Sintra
Nem pelo caminho.

Vamos passar a noite a Sintra por não podermos passá-la em Lisboa,
Que lá está o outro de quem não me consigo livrar.
Mas, se assim continuarmos quando chegar a Sintra,
Terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Pelo menos com o outro, a foda era certa e boa.
Sempre esta indecisão, sempre, sempre, sempre.

Maleável aos meus movimentos de mãos,
Estou mortinha que galgue sobre mim
E podia ser mesmo na berma da estrada.
Sorrio do cacete bem teso, ao pousar as mãos nele,
E ao abocanhá-lo em andamento.

Por fim, à beira da estrada, à esquerda, um casebre —
Uma boa oportunidade para uma memorável pranchada contra a parede,
Que tenho o gosto romântico das ruínas —
E a direita também promete com o campo aberto, com a lua ao longe.
Por mim, é aqui já. Paramos.
O automóvel é agora uma coisa onde estamos fechados e aos gritos.
Que só posso foder à vontade se ele estiver fechado,
Para ninguém se alarmar.

Grito porque me sabe bem e grito por mais.

À esquerda, lá para trás, o casebre modesto, mais que modesto.
A vida ali deve ser uma tal seca, ainda bem que não é a minha.
Se alguém me viu da janela do casebre, sonhará: Aquela é que é feliz.
Talvez o rapaz que olhou, ouvindo o motor, pela janela da cozinha
No pavimento térreo.
Sou qualquer coisa da puta de todo o coração de rapaz imberbe.
Ele me olhará de esguelha, pelos vidros, até à curva em que me perdi:
Deixarei sonhos e punhetas atrás de mim.

Na estrada de Sintra ao luar, ante os campos e a noite,
No Chevrolet onde mamo consoladamente,
Perco-me neste fodão, sumo-me no êxtase que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Aceleramos o ritmo.
E o mangalho esparrama-se-me no monte-de-vénus.

À porta do casebre,
O rapaz a esgalhar uma.
E a minha cona ainda insatisfeita,
A minha cona desejosa daquela verga manceba.
Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar.
Na estrada de Sintra, que cansaço as cambalhotas no carro dadas
E já a vontade de mais.
Na estrada de Sintra, já no pós-orgasmo.
Na estrada de Sintra, já mais perto de outro,
Do Álvaro, do Fernando, tanto faz.

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