sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A beleza da hora que passa

A beleza da hora que passa é breve e por isso profitemos da sua dádiva, avaramente concedida pelos deuses. Enlaço-te a mão e intimamente colho os deleites do teu calor ardente. Muda, com um gesto distraído, olho o mar e um horizonte em flamas captura-me a atenção. Um sorriso entre o espanto e o encanto sela a nossa súbita comunhão de sentidos. Desenlaças as mãos e abres os braços ofertando-me um largo amplexo que o meu corpo frui em festa. Invito-te a não fazermos mais nada a não ser seguir o desaparecente sol. Assim, permaneceremos abúlicos por fora, ainda que com o alvoroço de cem corcéis galopando pelo peito e pelo sexo. Soltar-lhes-emos as rédeas quando o inevitável ocaso ocorrer. Nesse instante, o fulgor do astro descerá sobre nós e arrojar-nos-á para o paraíso da exaltação dos corpos. A beleza da hora fugidia cessou. Sabiamente saboreámos-lhe os fugazes frutos doces. Saibamos também não defraudar os caprichosos Eros e Afrodite, para que consintam em nos coroar a jucunda fronte.

É a hora! Osculemo-nos...

6 comentários :

  1. Exquiso!
    Apreciei especialmente o "osculemo-nos" final, a lembrar que o verbo "osCULar" também pede uma revisão do étimo...

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