sábado, 24 de maio de 2014

Ménage à quatre mains (5): Eu

(parte 4)


Tréplica:

No limite da capacidade respiratória, abro a porta do carro, para receber a frescura da noite, mas sem deixar os teus braços. Ainda trémula, ao levantar-me quase cambaleio. Convido-te a tomarmos o banco de trás, aninhamo-nos, o cansaço vence-nos e adormecemos.


Acordo, olho o rio que a esta distância parece uma gigantesca jibóia repousada entre os montes. A lua continua sobre ele cobrindo-o de prata. Vigio-te o sono, perscruto cada centímetro do teu rosto sob a luz pálida. És o meu cavaleiro adormecido depois do esforço guerreiro, o meu Sansão à mercê das minhas mãos. Sorrio com a analogia bíblica, tu acordas, olhas para o lugar onde estamos e apercebes-te do isolamento. Perguntas as horas, pouso um beijo longo sobre a tua boca. Queres água, sorvo um abundante trago e passo metade para a tua boca. Reages com surpresa e sorrisos e a água escorre-te pela face. Aspiro-a e já nos beijamos outra vez, em ritmo moderato, que em breve se torna vivace. Olho o teu corpo e reparo no pau que te cresce. Atiro-me a ele, porque não lhe resisto ao sabor, à sensação de tumescência crescente na minha boca, ao seu porte garboso. Passo-lhe a língua com lentidão, sou uma caligrafista oriental que desenha a saliva os ideogramas do desejo. Afasto a minha cara para o contemplar — sim, é digno desse gesto —, digo-te como o aprecio, como é belo, como me sabe bem, como solta os cavalos selvagens que me galopam no sangue do sexo ao cérebro. Não me apetece largá-lo, acho-o merecedor de algo especial. Digo-te que queria ter mil mãos, mil bocas para saciar o mais belo caralho do mundo. Sorris, quase tímido das finezas que lhe dirijo. Acrescento que uma piça como a tua é digna de louvor, cujo título te anuncio, introduzindo uma nota de humor na onda crescente de tusa: Encómio do teu falo. Ainda em atitude contemplativa ergo-o com a mão, depois deixo-o cair para lhe percorrer o dorso liso, duro, quente, palpitante, tamborilando-o levemente com as pontas dos dedos.

De repente, os meus olhos pousam sobre uma mesa ali posta para piqueniques. Paro de te acariciar e peço-te: «Fode-me naquela mesa». Saímos do carro, visto o casaco que me protegerá as costas, deito-me sobre a mesa, abraço o teu corpo com as minhas pernas e ordeno-te: «Fode-me, fode-me, muito, não pares até te vires».

Obedeces-me, espetando-mo todo na cona. Grito a tusa imensa, total, que os embates do teu imponente pau me desatam. Aceleras o ritmo, sinto o orgasmo aproximar-se, tento retardá-lo até coincidir com o teu. Digo-te que espero por ti. Já não me respondes, porque não é preciso. Já sinto aquela inundação quente no fundo de mim, que recebo com os espasmos do orgasmo.

De novo ofegantes, deitas a cabeça sobre o meu peito, eu olho o céu e tenho a impressão que apanhei uma piscadela de olho da lua.


Méssaline

4 comentários :

  1. Bela saga. Fica a sensação de que podia e devia continuar por muitos mais episódios.
    Alguns trechos fizeram-me lembrar, sem que eu consiga explicar muito bem porquê, os clássicos na matéria.
    Merci.

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    1. Merci, Paulo.
      Bem visto, no que diz respeito aos clássicos na matéria. Havemos de trocar impressões blogosferamente profícuas sobre alguns clássicos da «ars amandi» ;)
      Bisous

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  2. Foi uma delicia ler este " ménage à quatre mains", o dom de intensas palavras reside em ambos.
    Beijo

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