sexta-feira, 30 de maio de 2014

Pedra Filofodal

(avec mes remerciements à Paul F.)

Ele não sabem que a tusa
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como essa língua molhada
em que me sento e me espeto
,
como aquele falo erecto
em pulsantes sobressaltos,
como estes meus seios altos
que em âmbar e oiro se agitam,
como estes lábios que gritam
em bebedeiras de gozo.

Ele não sabem que a tusa
é vício de esporra, é alento,
amante álacre e sedento,
de pau feito, caralhudo,
que me fode, cu e tudo,
num perfeito movimento.

Ele não sabem que a tusa
é ânsia descontrolada,
broche, coito, espanholada,
instinto primordial,
pinada em catedral
contra o altar, sodomia,
nácar na cara, magia,
rapidinha no emprego,
moço de recados, patrões,
monte-de-vénus, colhões
em doce desassossego
que acaba em boa esporrança,
puta, devassa, oh sim!,
piça enterrada em mim,
variedade, mudança
(Méssaline fode assim),
minete em elevador,
carro, galeria de arte,
vem, volta a espetar-te,
clímax, êxtase, tremor,
deleite único e total,
agora tu, decisão:
punheta, ejaculação
na superfície ventral
.

Eles não sabem, nem sonham,
que a tusa comanda a vida,
e que sempre que bem me fodem
a cona pula-me e alcanço
orgasmos que m’incentivam
para o próximo pinanço.

5 comentários :

  1. Respostas
    1. Mesmo tendo sido eu a escrevê-lo, não consigo resistir a trautear o lálálálálálálááááááááá final da versão do Freire. :D

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  2. Suponho que é a primeira vez que ascendo ao estatuto de muso inspirador (e não aspirador, que isso foi tema de certo workshop de sucesso).

    O resultado não poderia ter sido melhor. Uma das mais bem conseguidas adaptações poéticas de Méssaline, precisamente porque é quase irresistível o tal lálálálálálálááááááááá...

    Bisou ravi

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    1. Lembra-se do comentário que motivou esta versão? Penso que foi dos seus primeiros.

      Talvez não fique bem ser eu a dizê-lo, mas também gosto particularmente desta versão; penso que é efeito da omnipresença da música no imaginário pessoal (e colectivo). Aquele fim tem algo de épico, e depois o implícito lálálá...

      Mas, em abono da verdade, continuo a pender mais para o Álvaro de Campos (toujours!). E gosto particularmente da subtileza de Petrarca.
      (Ando também há uns tempos enrolada com Dom Dinis, mas das rosas, até agora, só lhe senti os espinhos....)

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  3. Lembro perfeitamente, sim. Foi a propósito de uma adaptação de um poema de outra "Pedra Filosofal", a do Jorge de Sena. E sim, foi um dos meus primeiros comentários aqui.
    Espero que encontre rapidamente as pétalas fofas dos poemas de Dom Dinis, prevejo adaptações interessantíssimas.

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