(parte 5)
Entrando no jardim, abraçamo-nos com um ímpeto que quase nos derruba, não fosse o amparo de uma palmeira. O calor cresce sobre o estribilho das cigarras, o sol exacerba o fúcsia das buganvílias. Recompomo-nos e o Marcello tenta abrir a porta, agarro-lhe nas mãos que se atrapalham, rimos. A porta abre-se sobre um espaço completamente amplo, dando protagonismo a objectos e mobiliário mínimos, tudo despojadamente branco com relâmpagos dispersos de azul. Reparo numa taça de fruta, escolho uma grande maçã vermelha, ofereço-lha:
— Il frutto del Paradiso!
— Vuoi essere Eva o Beatrice?
Eva, claro, mas preciso de um banho. Uns minutos depois, apareço nua, com a pele ainda húmida. O Marcello serve água com folhas de hortelã e limão.
— Benvenuta a questo mio modesto ritiro!
E enquanto ele toma banho, eu verifico como uma casa “modesta” de um arquitecto italiano é a revelação pura do sentido estético ímpar deste povo, e ergo um cacho de uvas negras, graúdas, melífluas. O Marcello aparece metamorfoseado em Adão e meto-lhe uns bagos generosos na boca, timbrando a cena báquica que o ambiente me suscita e cujo guião se desenrola já na minha mente, em versão revista e adaptada a este cenário com o Mediterrâneo ao fundo, agora cheio de uma cintilação tão cinética que mais parece própria de ser animado, talvez de um peixe colossal de escamas inquietas. É exactamente isto que digo ao Marcello quando volto a cabeça para o mar, no primeiro intermezzo, enquanto ele dissemina beijos pela minha pele suada.
— È vero! È un pesce, un pesce buono il giorno e molto cattivo la notte. Questa sera te va a mangiare tutta, Messalina.
(continua)
peixe assim "devorador"....... será Marcello um "squalo" à tua altura, Méssaline?
ResponderEliminarÉ preciso saber esperar, cher Charles... ;*
EliminarXi, Méssaline... todo o ambiente propício... e tomam banho separados?!
ResponderEliminarSim, poderia ter incluído na história um romântico banho a dois — mas não seria verdade. :-)
EliminarBisou.